domingo, 19 de maio de 2013

II Conferências dos Capuchos 5- Pauliteiros de Miranda "Os Zoelas"

 
 
      O Dr. Amadeu Ferreira, Presidente da Associação da Língua Mirandesa, acompanhou toda a atuação do grupo de pauliteiros "Os Zoelas", explicando esta dança de 8 homens, vestidos de forma peculiar, que manejam os paus (palos), nas diversas peças designadas laços (lhasos) que têm uma componente de música, coreografia e por vezes texto.
      Um a um, foi comentando os cinco lhaços apresentados, com explicações que muito enriqueceram o espetáculo no claustro do Convento dos Capuchos.
      Estão de parabéns os tocadores e bailadores que nos presentearam com os seguintes lhasos: Mirandum, Las campanitas de Toledo, Os Ofícios, Padre António, Vinte e cinco de roda.
  ---
 
      Na sua comunicação,  ainda na sala do piano do convento, o Dr. Amadeu Ferreira tinha apresentado uma  resenha histórica da língua mirandesa, uma das três línguas oficiais de Portugal.
     O mirandês é uma língua latina, proveniente da língua do Reino de Leão, o leonês. Na época da fundação, em Portugal falava-se o galaico-português e o leonês. O leonês com a influência progressiva do galaico-português e português deu origem ao mirandês. Estava presente em toda a fronteira com Espanha e atualmente fala-se na região de Miranda do Douro, numa linha até Dijon, nas Astúrias.
      Do séc. XVI há a identificação do mirandês, num diário de Manuel Bento de Faria, mas é neste século que se assiste ao movimento uniformizador da língua portuguesa e menorização das línguas pequenas, reforçado pelo Concílio de Trento que impõe a catequese e a missa em português. O próprio Gil Vicente contribui para o amesquinhamento do falar do interior do país e, consequentemente, do mirandês. Devido a esta menorização da sua língua, os mirandeses tornam-se bilingues: na família e na comunidade falam o mirandês e no trato com a administração pública usam o português.
      Só no séc. XIX o mirandês capta a atenção de um grande vulto da cultura, José Leite de Vasconcelos, que começa por escrever o folheto  O Dialeto Mirandês (1882), aprofunda o estudo da língua e publica dois grandes volumes da Filologia Mirandesa (1900) que contém a primeira gramática do mirandês. Esta e o contributo da escola do linguista Lindley Cintra constituirão a base científica que suportou a decisão da Assembleia da República em proclamar a língua mirandesa como uma das línguas oficiais de Portugal, em 1999. 
      Com o crescimento da escolaridade nos anos 50/60 do séc. XX, o aparecimento da televisão, a crise da agricultura que leva à emigração da população local e, por outro lado, o aumento da população falante de português por via da construção das barragens do Douro internacional, leva ao declínio da língua mirandesa. Nos anos 60  o mirandês era falado nos concelhos de Miranda do Douro e Vimioso por 20000 pessoas,  registando-se atualmente 7000 falantes dos quais 2000 na região de Lisboa.
     Amadeu Ferreira exprimiu também a sua preocupação e anseios sobre a sobrevivência da língua mirandesa. Em termos mais intimistas falou-nos da  vivência do mirandês como sua língua materna: a enorme ligação afetiva e emocional e o papel estruturante desta língua no seu percurso pessoal. Leu-nos o poema que dá origem ao título Ars  viviendi, ars morrendi, do livro publicado  recentemente, sob o seu pseudónimo Francisco Niebro.     
      A cultura mirandesa encerrou, de forma tocante, esse segundo sábado (dia 11 de maio), das Conferências dos Capuchos.


Sem comentários:

Enviar um comentário